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sábado, 28 de março de 2015

Aquele da Saudade


Já se passaram quase 4 meses que tomei umas das decisões mais difíceis da minha vida: voltar de Vancouver. Sim, confesso que a minha ida foi exatamente do mesmo jeito. Chorei o vôo inteirinho, incluindo o de conexão, tempo de espera entre um vôo e outro nos Estados Unidos. Eu mal conseguia falar com a minha família, quando liguei de Chicago. Com a voz embargada fingi para os meus pais que eu tinha feito uma viagem ótima. Foi difícil pegar o táxi sozinha do aeroporto e ir para a casa de estranhos. Mais estranho ainda me sentar com eles na mesa e começar a chorar na minha primeira refeição. Eu tinha certeza que eu não iria conseguir ficar longe da minha família.
Mas confesso que Deus, o tempo, a cidade e todas as experiências maravilhosas que tive me fizeram aguentar firme e superar muito mais do que podia imaginar.
Eu já tinha ouvido falar que não era fácil se adaptar no país de origem depois de um intercâmbio. Eu não tinha ideia de como seria isso, mas vou ser honesta e dizer que dói muito. Dói, porque 1 ano longe te faz criar muitos e muitos vínculos. Te faz entrar em uma nova vida e assumir uma nova rotina.É engraçado que eu vivo encontrando pessoas na rua que me lembram algum cliente dos lugares que trabalhei ou até mesmo amigos de lá, eu tento olhar bem o rosto para ter certeza de que é apenas a minha imaginação.

Eu não tive só dias de flores em Vancouver. Não. Eu chorei muito lá. Tive trabalhos que, mesmo sendo honestos, eu odiei, mas precisei não olhar para isso se queria mesmo continuar no país. Chorei também muitas e muitas vezes no caminho entre a minha casa nova e a estação de trem, enquanto seguia cedo para a escola. Chorei nas aulas que tínhamos que falar sobre a nossa família. E chorei mais dezenas de vezes no Skype. Realmente, não foi fácil.

Quando comecei a trabalhar conheci uma porção de gente querida. E a cada novo trabalho, mais um novo nome na agenda do celular. A cada ida a uma aula, um novo rosto no meu facebook. E eu fazia amizade até quando ia fazer compras. Mas amizade mesmo, de combinar e sair outras vezes para um café. Eu sinto falta de coisas muito simples. Saudade de andar na praia sozinha e também rodeada de gente depois do trabalho. Saudade de correr para não perder o trem. Saudade de ir ao mercado e depois voltar a pé para casa, pensando na vida. Saudade de pegar um chocolate quente do Tim Hortons. Saudade de andar de bike no Stanley Park. Saudade de faltar a aula no fim da tarde e comer no IHOP. Saudade de conversar com gente de tudo quanto é canto do mundo. Saudade de conhecer lugares parecidos a cenários de filme. Saudade de colocar o fone de ouvido no último volume e andar pela Main. Saudade de descer a Granville e também de ir ao Fly Over só para ter a sensação de viajar o país inteiro em uma sessão de 20 minutos. Saudade de caminhar no Canadá Place e viajar no tempo como no meu segundo dia na cidade. Saudade do anoitecer. Saudade do voley até as 10h da noite na Kitsilano Beach. Saudade da cidade colorida e também em preto e branco.

Saudade das minhas saudades. Saudade de pensar que tudo parecia um sonho. Eu caminhava sem acreditar que tinha conseguido fazer a viagem. Pela primeira vez na vida senti orgulho das minhas escolhas, mais do que qualquer outra. Que saudade do meu Canadá. Eu me apaixonei por lá, já está gravado no meu coração. Vancouver me fez me sentir viva como nenhum outro lugar. Me fez acreditar nos meus sonhos e viajar nas minhas mais doces lembranças. E acredito que agora, mesmo com o coração cheio de saudade, é o que ainda mantém a chama acesa para os meus sonhos. Para continuar intensamente a caminhada em busca do novo, do desafio de coisas imensuráveis. Obrigada, Canadá!